Fitaram-se: quatro olhos se acenderam brilhantes; bocas sorriram. À distância mesmo tocaram-se levemente com as pontas dos dedos. Uma possibilidade de amor lhe esquentava. Abria-se mais e mais, porque era com muita doçura que o homem pedia. Dava-se sem medo. O corpo queria o prazer de um novo toque que, de longe, se fazia sentir.
Quando, em outros tempos, preparava-se para receber aquele que não aparecia nem se explicava, esperava-o crente de que a espera é natural de quem ama. Até descobrir que amor é quando a pessoa chega minutos antes.
Com meia hora de antecedência lá estava o amante. Sorridente, dizia-lhe que a aguardava há um bom tempo. E ela se sentia amada porque se forçava a confundir desejo com amor. Nunca sabia muito bem o significado das palavras, a dimensão ou o alcance delas e, por inocência ou esperteza, deixava-se levar como quem é tomada de fé.
Punha-se a esperá-la por alguns minutos. Tirava a aliança e colocava-a no bolso antes que a amante chegasse. Não pretendia ocultar-lhe sua condição. Cada um sabia em relação ao outro que havia em casa quem os esperavam. Era um gesto de pura delicadeza e cuidado para evitar que, quando estivessem juntos, olhasse o objeto que a faria lembrar da outra, ainda que a marca no dedo não deixasse escapar a ninguém a evidência de uma longa história. Ela notava. Nada dizia para não se obrigar a fazer o mesmo. Não lhe incomodava que ele visse em sua mão a prova de que outro também a possuía. Quem sabe isso o faria desejá-la até mais.
Abraçavam-se cheios de saudade. Enquanto sussurravam um ao outro, as mãos entrelaçadas ou a dela acariciando-lhes os mágicos dedos; os olhares fixos um no outro, mergulhados no desejo intensificado à medida que não se entregavam por inteiro.
A mulher cheia de si, mal sabia que ele adiava o momento apenas para segurá-la com mais força. Era desejo o que fingia acreditar ser coisa mais profunda apenas para se dar o luxo de imaginar-se duplamente amada.
Seduzir era o que o fazia se sentir cada vez mais vivo e alimentava seu vigor diante de si mesmo. Dizia o que ela necessitava ouvir, mandava-lhe flores e presentes, parecia adivinhar-lhe os pensamentos quando fazia soar em seus ouvidos uma música que traduzia o que ela sentia.
Suspiravam e o ar entrava pleno em seus pulmões. Era a vida alimentando e revitalizando todas as células do corpo. Seja lá o que fosse, seria com a indestrutível força do que ambos queriam. Algo de que eles não ousaram fugir.